sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Waiting

O relógio antigo, pendurado na parede que já foi branca, marcava 3 horas. Nervoso de pé segurava com a mão direita um copo vazio enquanto deambulava pela sala contornando os móveis de madeira velha. Na cabeça imaginava todos os cenários que pudessem justificar o teu atraso. Um atraso que acompanhava um acumular de desilusões e falsas expectativas que criei nos inúmeros por de sol que suavemente me aqueceram o coração ingénuo Contava os passos lentamente tentando evitar os pensamentos arrepiantes que atravessavam a minha memória. Vi reflectido na parede, aquela onde pendurado estava o velho relógio marcando as mesmas 3 horas, os longos e quentes beijos que trocamos num verão soalheiro. Parei á janela e deprimente observei a chuva que cinicamente escorria no vidro mal lavado. Antes os teus atrasos intensificavam a minha insana vontade de olhar os teus olhos, os minutos que passavam fortaleciam o cheiro do teu corpo. Agora conto as pequenas gotas de água e acendo um cigarro que solitário se deita na cómoda junto á janela. Os segundos que passam são como choques internos que ferem uma alma já de si fraca, a ausência de esperança carrega uma dor constante sobre mim. Arrasto o meu corpo pela parede e deixo-me sentar no chão junto ao meu copo já cheio. O estado da sala e o cheiro nauseabundo da minha t-shirt preta dizem-me que te espero talvez há dias, não sei, o relógio continua parado nas 3 horas. O telefone abandonado garante-me o afastamento da realidade, mantem-me na minha mísera condição de quem espera impacientemente alguém que não vem. A música que ecoa nas várias colunas perdidas pela sala repete-se. Num olhar rápido vejo que a nossa cama ainda esta pronta para a tua chegada, espero-te eternamente na sala onde um dia o teu cheiro era o meu oxigénio.

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